Rede de vending machines oferece equipamentos e serviços na área de ciclismo 24 horas por dia
Eram cinco e meia, seis horas da manhã quando Sandro Wuicik atravessou a BR 277, sentido litoral, a pedaladas. À sua volta, uma Curitiba adormecida comprovava que horário comercial é coisa séria: nenhuma das dezenas de lojas na capital já estava de pé para vê-lo passando por ali. Antes das nove horas, tudo fechado. Funcionário precisa dormir e estabelecimento de autoatendimento é negócio raro, mesmo na tal da Europa brasileira.
Pode não parecer, mas andar de bike em horários alternativos é um enorme perrengue. Como qualquer outro transporte, a bicicleta está sujeita a falhas operacionais – pode ser um pneu furado, uma correia danificada ou uma luz de sinalização que acordou com pouca vontade de sinalizar. Algumas coisas podem ser resolvidas pelo próprio ciclista; outras requerem a substituição de mecanismos específicos. Naquela noite, Sandro precisava desesperadamente trocar sua câmara de ar.
Estava acompanhado do cunhado, Eduardo Cordova, e do amigo de infância, Paulo Carvalho, em um percurso que já tinha se tornado rotineiro para os três. Pedalavam sempre pela manhã, e a falta de estabelecimentos abertos àquela hora começou a se tornar um problema. O momento Eureka para contornar aquele inconveniente veio de Sandro: E se existissem vending machines com equipamentos de ciclismo funcionando 24 horas por dia?
As experiências dos três como ciclistas e empresários – Sandro e Eduardo já eram sócios na administração de uma academia e em uma rede de postos de gasolina – fez com que enxergassem o potencial da ideia sem nenhum tipo de insegurança míope. Levaram para frente depressa. “O Paulo foi o grande responsável por tirar a ideia do papel”, conta Sandro. “Ele foi atrás dos fornecedores, estudou muito sobre o mercado e fez os testes dos produtos que escolhemos e instalamos em Curitiba, no Posto Anjo Gabriel”.
Batizaram a startup de Byke Station e abasteceram as máquinas com kits de reparo, lubrificantes de corrente, luzes de segurança, cadeados e até barras de proteína. Uma espécie de primeiros socorros do ciclista urbano.
“A bicicleta está virando pauta nas grandes cidades. Algo que antes era visto como algo que atrapalhava o trânsito, hoje claramente já é visto com uma das soluções para o caos na mobilidade em que estamos vivendo”
Sandro Wuicik
Os dados reiteram a fala do CEO da empresa. Segundo a pesquisa “O uso de bicicletas no Brasil: Qual o melhor modelo de incentivo?”, o Brasil possui 70 milhões de bicicletas e aumentou a busca por bikes para pedalar nas cidades. Passa muito longe de países como a Holanda, onde o número de bicicletas ultrapassa o próprio número de pessoas, mas demonstra um grande avanço na escalada pela utilização de meios de transporte alternativos.
Hoje, a Byke Station possui sete estações no Paraná, somadas às dez em São Paulo e uma filha única em Santa Catarina. A atual rotina da empresa consiste em experimentações, coleta de resultados e, principalmente, aprimoramento dos produtos e serviços ofertados. “Enquanto muitas empresas estão focando em grandes soluções como o Bike Sharing e aquisição de novos usuários, nós estamos nos preparando para ser o apoio aos ciclistas, com produtos e serviços de qualidade”, afirma Sandro.
Em uma conversa rápida, ele me conta que investir em uma startup é bem diferente de investir em uma empresa tradicional. “O tempo de criação do produto deve ser reduzido com o desenvolvimento do que chamamos de Minimum Viable Product. A aceitação deve ser testada junto aos usuários e o produto deve ser aperfeiçoado, mudado ou até abandonado de acordo com os resultados medidos. Só assim teremos um produto rentável, escalável e repetível, que é o que todos nós desejamos”, explica.
Os gestores da Byke Station acreditam que um bom negócio é aquele que consegue utilizar poucos recursos para impactar muita gente. Citam uma frase de Eric Ries, empreendedor no Vale do Silício e uma espécie de mestre Yoda das startups: “Uma startup é uma instituição humana desenhada para criar um novo produto ou serviço em condições de extrema incerteza”.
É isso que fazem. Crescem apesar das incertezas. E continuam pedalando fora do horário comercial, antes mesmo que Curitiba acenda suas luzes, mas agora sem o risco de passar pelos velhos perrengues.