Como os elevator pitchs estão transformando o mundo das startups

 

“Então você para e pensa: tudo bem o meu dia não ter começado tão bem assim, mas ele não precisa terminar do mesmo jeito”. É com essa frase que Camila Ekamoto, estagiária do setor de Pesquisa na agência Motion Publicidade, encerra sua curta – e competente – apresentação sobre um dos clientes da empresa. Na sala, estão também Eduardo Cordova, diretor da Motion, a equipe de social medias e o produtor de vídeo que registra o discurso para análise futura.  

Com dois minutos e trinta segundos de duração, a apresentação de Camila é o que os empreendedores chamam de pitch:  uma fala sucinta, que vai direto ao ponto, com o objetivo de vender uma ideia para possíveis investidores. O tempo, que geralmente não excede três minutos, deve ser dividido para esclarecer questões como: Que tipo de problema minha empresa pretende resolver?, Como se diferencia das outras?, Como anda o mercado para o produto ou serviço que estou oferecendo?, e, é claro, Por que vale a pena investir neste negócio?

O termo pitch vem da expressão elevator pitch; referência a um contexto bastante comum no mundo dos negócios. Imagine a seguinte situação: você está no elevador de um importante edifício comercial, quando um possível investidor ou parceiro de negócios entra. Você quer falar sobre sua startup e convencê-lo a se juntar ao projeto, mas só tem alguns segundos para fazê-lo. Quando as portas se abrirem, este possível investidor vai lhe dar as costas, com ou sem a intenção de voltar a procurá-lo. O que você faz?

Um bom pitch é aquele que consegue transmitir uma mensagem complexa e conquistar outras pessoas, segundo a definição de especialistas na área. Entediar sua audiência é um caminho que deve ser evitado a todo custo – mesmo um discurso de dois minutos pode virar uma tortura quando mal articulado. Para Camila, o desafio de falar em público foi uma forma de aprender mais sobre os clientes e superar a própria timidez.

“Fiquei bem nervosa antes do meu primeiro pitch na empresa”, lembra. “Falei tudo que tinha ensaiado, só que rápido demais. Esqueci de respirar, de pausar entre as frases, e não foi nem por medo de o tempo acabar. Foi puro nervosismo”. Muito pouco dessa ansiedade, entretanto, chegou a ser externalizada para o público. O discurso de Camila é engenhosamente construído e transmite a essência da empresa na medida certa. Começa com uma historinha sobre dias que dão errado, e termina com a sugestão de que um bom atendimento tem poder para reverter até as piores situações. Começo, meio e fim; tudo em menos de três minutos.

Desenvolver a capacidade de falar em público não é tarefa fácil, como sabe boa parte da população. Prova disso são as centenas de cursos na Internet que se propõe a reverter o nervosismo diante da plateia. Aprenda a se comunicar, Oratória em 24 horas, Quem tem medo de falar em público, e até o bizarro Explique sua tese para sua avó. A lista é longa e cheia de boas intenções, mas a verdade é que poucos métodos funcionam melhor do que a prática e a insistência.   

“Os pitchs me ajudaram a conversar em público com um pouco mais de confiança, sem surtar com o nervosismo. Aprendi a controlar esse sentimento e usá-lo ao meu favor”, afirma Camila, que nunca foi muito de se jogar na frente dos holofotes. “Desenvolvi, também, minha capacidade de ouvir opiniões e sugestões dos outros sem me cobrar demais por isso”.

Ao fim do discurso, o que fica é a sensação de alívio e orgulho por ter desempenhado um bom papel fora da zona de conforto, ela conta. “O nervosismo vai estar sempre presente. Mas comecei a ver isso tudo como um incentivo para melhorar e não como uma barreira que me deixa paralisada”. 

Assisti a outros três pitchs de Camila, que definitivamente não parece paralisada. Nenhum deles falha em me convencer. E nenhum deles ultrapassa os três minutos. É o tempo de cozinhar um pacote de macarrão instantâneo, ou de conquistar o investidor que mudará a história da sua startup. Cada um aproveita o tempo de elevador como quer.