Quando pensamos em regras e advertências no trabalho, logo vem um monte de coisa ruim na cabeça. Aquele chefe chato, que passa o dia procurando os motivos mais idiotas para dar bronca na gente. Eu digo isso com conhecimento de causa, porque era exatamente isso que eu pensava. Até eu entrar no BioGrupo.

Hoje eu entendo porque as regras e advertências são importantes. Mais do que isso: eu entendo como elas podem ser benéficas para mim mesmo, porque cada uma delas me fez aprender coisas muito importantes.

As regras são nossas amigas e eu posso provar. Vem comigo que eu explico.

O Benjamin Button da responsabilidade

Você já assistiu àquele filme “O Curioso Caso de Benjamin Button”, em que o Brad Pitt nasce velho e vai ficando mais novo? Pois bem, eu costumava dizer que eu era o Benjamin Button da responsabilidade: era uma criança quieta, estudiosa e inteligente, mas me tornei um adulto relapso e irresponsável, que não leva a vida sério.

O maior reflexo disso estava na minha carreira. Três anos depois de formado, com pós-graduação, eu continuava em empregos que me pagavam pouco e onde eu tinha pouca perspectiva de crescimento. A razão para isso estava em algo que meus gestores, inclusive, sempre me diziam: “Você é inteligente e tem talento, mas sua conduta profissional é péssima”.

Eu nunca discordei disso, mas também nunca fazia nada para mudar. Em primeiro lugar, porque nunca cheguei a ser demitido por meu comportamento e estava acomodado nos meus empregos. Eu, por muito tempo, acreditei que poderia compensar meu comportamento com uma entrega acima da média, quando eu resolvia trabalhar.

Por mais que esse pensamento pareça obviamente errado, olhando de fora, era assim que eu agia. Eu só comecei a pensar nisso, de verdade, quando eu comecei no meu emprego atual, como analista de planejamento na Motion Publicidade, uma das empresas do BioGrupo.

Sabe o ditado que diz que “quando a água bate, a gente aprende a nadar”? Nesse caso, bateu uma tsunami em mim e eu aprendi a nadar na marra. E essa foi a melhor coisa que poderia ter acontecido com a minha carreira.

Dez minutos é atraso?

Como eu disse no início do texto, eu levei muitas advertências nos meus primeiros meses de Motion/BioGrupo. Quase todas por atraso e mais algumas por esquecer prazos e mexer demais no celular no meio do expediente.

Nas primeiras vezes, eu fiquei muito bravo. Eu até mesmo cheguei a argumentar: “dez minutos não é atraso!”. Mas, com essa rotina de levar advertência e ficar bravo, eu comecei a refletir.

Eu sempre quis ser bem sucedido na minha carreira e vida financeira. Não me considero uma pessoa ambiciosa e materialista. Inclusive, acho que é possível ser feliz sem dinheiro, vivendo uma vida simples em um sítio ou na praia. Mas o meu ideal de felicidade, de fato, inclui uma vida confortável na cidade, poder viajar e comprar as coisas que eu quero.

Para essas coisas, eu preciso de dinheiro. Como eu não nasci em berço de ouro, me sobram poucos caminhos para ganhá-lo: ganhar na loteria, casar com uma pessoa rica ou trabalhar.

Qual caminho eu escolhi?

Só não jogo tudo pro alto para não ter que juntar depois

A cada uma das minhas advertências, meus gestores — Fernando, o gerente comercial da Motion, e o Eduardo, diretor do BioGrupo — me chamavam para conversar. Eles tentavam me conscientizar da importância de respeitar as regras, explicavam que todas as outras pessoas na empresa seguiam e que não podiam abrir uma exceção para mim… Até mesmo sugestões para eu regular melhor os meus horários eles me deram.

Mas nada disso adiantou. Parecia que infringir as regras era algo mais forte que eu. O que me fez mudar, então?

Bom, eu levei tantas advertências que cheguei a levar uma suspensão. Quando isso aconteceu, eu fiquei mais bravo do que de costume. Nesse momento, eu tinha duas escolhas:

  • Me demitir e procurar outro emprego
  • Ficar calmo e começar a respeitar as regras

Se fosse para me demitir e procurar outro emprego, duas coisas poderiam acontecer. Eu arranjaria outro emprego onde eu iria empurrar as coisas com a barriga, mas sem nunca ter uma promoção, um salário melhor e as outras coisas que eu queria. Ou eu ia para outro lugar onde me cobrariam as mesmas regras que no BioGrupo, mas sem a mesma compreensão.

Foi aí que eu tive o estalo: se eu não mudasse minha conduta profissional, eu ia continuar nos mesmos empregos que não me levavam a lugar algum e eu não ia conquistar nada do que eu queria.

Tudo que eles estavam me cobrando — horários, comprometimento, eficiência — não era para o bem deles. Era para o meu bem. O que meus chefes estavam fazendo comigo era me dar a oportunidade de ser um profissional mais comprometido e crescer na carreira. Afinal, ninguém iria dar um cargo importante e um salário alto para alguém se comporta como um moleque, como eu me comportava.

Parece óbvio, olhando de fora. Mas aí que está a questão: eu só entendi o meu problema, quando eu olhei de fora.

Das coisas pequenas para as grandes

Desde então, eu resolvi virar gente grande: comecei a chegar no horário, me concentrar mais durante o expediente, me comprometer com prazos. Claro que velhos hábitos são difíceis de mudar e eu ainda tenho um problema ou outro (mexer no celular, principalmente). Mas eu realmente estou empenhado em mudar meus hábitos e respeitar cada vez mais essas regras.

A partir do momento em que eu entendi a importância de respeitar o horário, eu abri minha mente para entender todas as outras regras. Elas não são um motivo para dar bronca. Elas servem para organizar o nosso trabalho.

A partir do momento em que a gente assina um POP, por exemplo, todo mundo sabe exatamente o que precisa fazer e não tem discussão porque fulano fez uma coisa de um jeito e sicrano de outro. Se existe um horário fixo para chegar na empresa, dar advertência é uma forma de fazer com que todo mundo leve esse compromisso a sério. Como diz o ditado, “O combinado não sai caro”.

Por fim, assinar um papel com essas regras e colocá-las em prática faz com que todo mundo esteja na mesma página. Fica muito mais difícil existir favorecimento e injustiça. Se os meus gestores me cobraram tanto, ao mesmo tempo em que foram tão compreensivos comigo, eu sei que essas cobranças são por um bom motivo.

Eu nunca pensei que eu iria dizer isso, mas hoje eu sei que todas as cobranças e advertências foram para o meu bem. Só assim eu passei a levar minha carreira mais a sério e parei de ser o Benjamin Button da responsabilidade.