Mirian Mitiko Okahara tem uma calopsita de topete amarelo como imagem de capa em seu perfil no Facebook. É uma de suas paixões, junto com as aulas de move dance e as idas ao pesque-pague aos finais de semana. Seus hobbies bastante ecléticos fazem sentido quando pergunto o que é preciso para se dar bem na carreira financeira e ela diz, sem pensar, que é a vontade de se desafiar e de conhecer coisas novas. Não consigo pensar em nada mais desafiador do que tomar conta de uma calopsita depois de horas rodando em uma aula aeróbica, e imagino que o mercado financeiro, famoso por suas mudanças ágeis, possa de alguma forma se beneficiar de pessoas de âmago agitado.
O pássaro, a dança e a pescaria são hobbies reservados aos dias livres. A vida de auxiliar administrativa na rede BioPosto é bem atarefada. Por sorte, abre espaço para que Mirian desenvolva outro de seus passatempos favoritos: fazer contas. Sempre gostou dos números e da facilidade com que conseguia aplicá-los. Quando era criança, dava aula de matemática para os amigos. Na faculdade, decidiu que o curso de Gestão Comercial era um bom caminho para dar aos números que cruzavam sua cabeça uma chance na carreira de negócios. Zeros e uns vestiram gravatas, apertaram os colarinhos e se prepararam para sair do papel e virar algo palpável.
Ainda não tinha emprego quando chegou ao último semestre do curso, e, naturalmente, fez o que qualquer universitário com contas a pagar teria feito: saiu espalhando cópias de seu currículo por tudo quanto é canto. A meta era entrar para a área administrativa de algum posto de gasolina, e como sabe-se bem que cérebros de exatas são excelentes obtentores de metas, não demorou muito para que fosse recrutada para uma entrevista.
A empresa era o BioPosto, sede EcoSocial. De muitas coisas, Mirian gostou logo de cara. O BioPosto trabalhava com ferramentas de gestão nem sempre presentes em outras empresas, como POPs (Procedimento Operacional Padrão), política de feedback e checklist de tarefas. Seu lado gestor aprovou. Só havia um problema: a única vaga disponível era na padaria. Seu lado desafiador falou alto novamente; os números, coitados, já engravatados, tiveram que esperar mais um pouco, e ela acabou aceitando o emprego.
A carreira na padaria durou algum tempo; depois, Mirian foi transferida para o caixa. Os números ganharam esperança. Foi a licença-maternidade de uma das colegas, Flaviana Crispin (leia aqui: Made In Porto Brasílio), que abriu uma deixa para que Mirian mostrasse o talento que tinha na área administrativa. Deu muito certo. Quando Flaviana voltou da licença, os diretores do BioGrupo abriram um cargo de auxiliar administrativo para Mirian, que agora o ocupa há quatro anos.
Pensando lá atrás, nos conselhos que gostaria de ter recebido quando ainda era estudante, ela recomenda que o importante nesta carreira é ser organizado, detalhista e proativo, com ênfase neste último. O gestor que fica esperando por ordens ou instruções de superiores está fadado ao fracasso, e isso é algo que ela deixa claro. Saber criar novas soluções para antigos problemas também é um diferencial que valoriza em colegas de profissão.
Paralelamente à vida que construiu durante estes quatro anos no cargo, vieram também as conquistas pessoais. O apartamento, o carro e o relacionamento estável com Kleber foram algumas delas. A calopsita de topete amarelo foi outra. Chama-se Pikachuzinha, e está na casa da família Okahara desde que era filhote. Talvez seja o nome, mas, de repente, tomar conta dela depois das aulas de move dance parece um pouco menos assustador.
Mirian ainda não conseguiu convencer o marido a dançar com ela, mas garante que ele é um super companheiro nas viagens que fazem pelo Brasil. O destino favorito do casal é Itapoá, Santa Catarina, mas também já foram a Foz do Iguaçu e Aparecida do Norte. De Curitiba até esta última, são mais de 595 quilômetros pela BR-116, o que leva cerca de sete horas e meia para ser percorrido. Mas, pensando bem, como poderia o número 595 ser desafiador para alguém cujas grandes centenas ajudaram a conquistar o sucesso? Na estrada, os números de Mirian se desengravatam para virarem quilômetros rodados, sem nunca deixarem de lado a tarefa de levá-la mais longe.