Parece o tipo de pergunta que o pessoal do RH faz pra gente em entrevista de emprego: “o que você considera mais importante: habilidades técnicas ou comportamentais?”. Então… parece uma questão de processo seletivo, porque é algo que muitos empresários realmente se perguntam. Que tipo de pessoa é melhor contratar: aquela que tem uma boa formação e currículo, mas tem problemas de comportamento? Ou uma outra, que se porta muitíssimo bem, mas ainda precisa aprender mais?
Mesmo que você já tenha um emprego, esse texto também é para você. Essa questão não importa apenas para quem está procurando uma recolocação no mercado: ela também determina quem recebe oportunidades e promoções ou quem sobrevive a demissões, em tempos de crise. A resposta para essa dúvida entre habilidades técnicas ou comportamentais é muito importante para qualquer trabalhador. Porque, para o chefe, não existe dúvida.
Dois tipos de habilidades
Ter habilidades técnicas, de modo curto e grosso, é saber fazer o seu trabalho bem. Se você é um publicitário, como eu, envolve conhecimentos de marketing, design, escrita e saber mexer em alguns programas de computador. Se você é um operador de caixa, precisa ser rápido para atender os clientes e atencioso para não se perder com as cobranças. Se você trabalha no administrativo, tem que entender de finanças, conhecer algumas ferramentas de gestão e por aí vai…
Como você pode perceber, as habilidades técnicas variam de profissão para profissão, mas é fato que todas elas exigem um certo conhecimento das pessoas, para que elas executem suas funções corretamente. Para melhorar esse tipo de habilidade, as pessoas podem procurar cursos técnicos, faculdades e especializações, treinamentos e reciclagens, ler livros e, claro, procurar mais experiência na sua área de atuação.
As habilidades comportamentais, por outro lado, têm menos a ver com o trabalho da pessoa na empresa e mais com a forma como ela age no dia a dia. Nesse caso, muda pouca coisa de uma profissão para outra, seja você publicitário, operador de caixa ou administrativo, trabalhador de chão-de-fábrica ou gerente. Esse tipo de habilidade inclui disciplina, resiliência, pontualidade e bom relacionamento interpessoal.
Mas engana-se quem pensa que isso é só uma questão de personalidade, que não é possível mudar. Também é errado pensar que essas características importam apenas para quem trabalha em equipes ou atendendo a clientes. Na verdade, elas são cada vez mais valorizadas pelas empresas e não apenas porque um ambiente de trabalho com pessoas que se comportam bem é mais agradável.
Qual das duas é mais importante, então?
A resposta é bastante simples: cada uma tem sua importância, por motivos diferentes. Como explica o diretor do BioGrupo, Eduardo Cordova: “Habilidade técnica é só um pré-requisito para a pessoa entrar na empresa, mas ela fica e cresce na empresa por comportamento”.
Não é de hoje que empresários e profissionais de RH pensam assim. Uma pesquisa bastante antiga, de 2000, feita pela revista Você S.A., já dizia que 87% das demissões acontecem por problemas de comportamento e apenas os 13% restantes por questões técnicas. Outro artigo, este do ano passado, da revista de negócios Business Insider, lista os 10 tipos de colaboradores que devem ser demitidos de uma empresa. Entre eles, estão os funcionários reclamões, os teimosos, os fofoqueiros, aqueles que brigam por qualquer coisa e que não assumem seus erros.
É claro que o texto também cita o “incompetente” como um dos tipos que não deve fazer parte da equipe. Mas incompetência tem muito pouco a ver com habilidades técnicas ou erros na execução do trabalho. Na verdade, errar pode até ser benéfico para sua carreira, na medida em que você aprende com o que aconteceu. Pensando por esse lado, ser incompetente é cometer os mesmos erros e não evoluir.
Você observa que, até quando falamos em competência, estamos falando muito mais de comportamento do que de técnica? Então, se você quer um aumento ou uma promoção, desenvolver habilidades comportamentais pode ajudar muito mais do que gastar dinheiro em um curso ou se matar de tanto trabalhar.
Inclusive, em diversas vagas — principalmente as que exigem menos conhecimento específico — há empresas que preferem colaboradores sem experiência na função, mas que demonstrem boas maneiras e facilidade de relacionamento. Isso porque o trabalho, em si, pode ser aprendido em treinamentos. Já a conduta da pessoa é algo mais difícil de mudar.
Repare que eu disse “mais difícil”, mas não impossível.Você pode — e deve! — desenvolver suas habilidades comportamentais.
Mas que habilidades são essas?
Como eu disse antes, esse tipo de habilidade envolve ter disciplina, ser pontual e se relacionar bem com as pessoas. Podemos dizer que elas são as três habilidades comportamentais essenciais.
Então, de pouco adianta ser o melhor naquilo que você faz se você não tiver, pelo menos, disciplina, pontualidade e bom relacionamento. “Já precisei demitir pessoas que eram muito boas naquilo que faziam, mas não eram boas em trabalhar em equipe ou chegavam sempre atrasadas”, conta Eduardo.
As três habilidades que mencionei acima são essenciais porque estão relacionadas ao item mais importante na relação entre colaborador e empresa: a confiança. Antes de tudo, a empresa precisa confiar na gente. Nesse sentido, ser pontual, disciplinado e bom nos relacionamentos mostra que nós não vamos deixar a empresa na mão, nem tentar passá-la para trás.
Outra questão importantíssima é o que eu falei antes sobre aprender com os erros. A não ser quando é um caso muito grave, os chefes se importam mais com como a gente reage ao erro do que com o erro em si. O negócio é ter jogo de cintura, aprender com a dificuldade e não fazer a mesma coisa no futuro.
Também é muito bom ser ambicioso, mesmo que você esteja começando “de baixo”. Claro que, aqui, eu to falando de ambição no sentido positivo: nada de puxar o tapete dos colegas! A questão é expressar sua vontade de aprender coisas novas e crescer dentro da empresa. Nesse sentido, é importante ser proativo: não esperar a chance aparecer para se preparar, mas demonstrar todos os dias que você está em busca de oportunidades.
Como dissemos, é possível desenvolver essas habilidades. O primeiro passo é fazer um exame de consciência, para descobrir quais você possui e onde você precisa melhorar. Reconhecendo quais são os pontos que você precisa aprimorar, é hora de agir!
Eu, pessoalmente, gosto muito de ler sobre as coisas que eu quero mudar. O que tem de livro e site por aí, com dicas de comportamento, não está escrito no gibi. Se leitura não é muito sua praia, você pode procurar vídeos, cursos ou conversar com alguém sobre o assunto. Em alguns casos, prestar mais atenção no seu comportamento, no dia-a-dia, pode ser o suficiente para melhorar.
O mais importante é entender o valor do comportamento para nossa vida profissional. Saber fazer nosso trabalho é o mínimo que a empresa espera. Para se destacar, a gente precisa desenvolver as tais habilidades comportamentais. Isso não é fácil — eu, por exemplo, lutei muito para me tornar uma pessoa pontual —, mas o esforço compensa. Compensa pela sensação de dever cumprido e pelas novas oportunidades. Afinal, quem não quer um salário maior no começo do mês?