De um emprego temporário como office boy, Rafael Valomim se tornou gerente administrativo e financeiro da Fazenda Contabilidade. Como ele cresceu tanto? É o que a gente conta nesse texto.

por Evandro Voltolini

Rafael Valomim
Rafael Valomim

Quando começou a trabalhar na Fazenda Contabilidade, Rafael Valomim (ao lado) pensou que esse seria um emprego temporário. Seu contrato era de três meses, para ajudar os contadores, em uma época de muita demanda no escritório. Esse “temporário” foi sendo prorrogado e já dura 15 anos.

Ao longo desse período, Rafael foi se qualificando, conquistou a confiança da diretoria e se tornou um dos funcionários mais próximos do dono da empresa, seu Onildo. De office boy chegou a gerente do setor administrativo e financeiro. A história de Rafael é a prova viva de que é possível crescer muito, quando a empresa dá oportunidades e o colaborador, por sua vez, sabe aproveitá-las.

Se você está começando de baixo e deseja subir na carreira, como eu, tenho certeza de que podemos aprender muito com essa história.

“Eu acho que me empolguei”

 

Desde que comecei a trabalhar na Motion Publicidade — empresa que faz parte do BioGrupo, assim como a Fazenda Contabilidade — eu ouço falar que, aqui, as pessoas têm oportunidade de crescer. Mas, como diz o ditado, “falar por falar, até papagaio fala”. Muitas empresas têm esse discurso e o que vemos, na realidade, são funcionários que recebem aumento apenas de trabalho, mas não de salário. Como bom seguidor de São Tomé, eu só ia acreditar naquela história de crescimento vendo. Então, eu vi.

Eu já havia conversado com Rafael — ou melhor, Rafa — algumas vezes, sobre serviços que a Motion estava prestando para a Fazenda, mas eu nunca pude conhecer sua história. Como estamos ambos sem tempo para fazer a entrevista por telefone e muito menos para marcar uma reunião presencial — a contabilidade fica em Fazenda Rio Grande e a Motion no bairro Bacacheri, em Curitiba, a cerca de 40 km de distância — envio as perguntas para Rafael por e-mail.

Espero receber respostas completas, mas curtas: Rafa é um cara simpático e solícito, mas também é muito ocupado. Mas com alguns floreios e mais algumas ligações para tirar dúvidas por telefone, eu teria minha matéria sobre a história dele. Algumas horas depois de eu ter enviado as perguntas, lá pela meia-noite, meu celular vibra. É o Rafa respondendo: “Eu acho que me empolguei. Falei até demais”.

“Eu pensei que estava no paraíso”

 

De fato, Rafa se empolgou. Contou sua história toda em detalhes, em páginas e mais páginas de anotações.

Ele conta de seu emprego anterior à Fazenda Contabilidade, em uma pequena empresa, no Centro de Curitiba. Nesse lugar, Rafael supostamente era office boy, mas tinha que fazer várias outras coisas que não estavam em sua função. Benefícios? Só o salário e olhe lá. Até para fazer o serviço de banco, mandavam-no ir a pé. Quando muito, davam uma passagem de ônibus. A cereja do bolo era a supervisora grosseira.

Eu não teria aguentado dois meses em um emprego como esse, mas Rafa ficou lá por dois anos. Então, pediu para sair. Foi quando surgiu a oportunidade de um contrato temporário de três meses para auxiliar nos serviços da Fazenda Contabilidade.

A alegria de Rafa começou quando ele notou a diferença no modo como as pessoas o tratavam. Claro que, ouvindo as histórias, não é muito difícil encontrar algo melhor que o antigo emprego dele. Mas, para o jovem Rafa, era uma mudança e tanto. A empresa dava todos os benefícios e os novos chefes eram simpáticos — pediam “por favor” e não mandavam, segundo ele. Fazer as coisas a pé também era coisa do passado: deram-lhe um carro para visitar aos clientes. Um Fusca. “Eu nem acreditei (risos). Eu achava que eu ia fazer as coisas a pé ou de bicicleta, mas me deram um Fusca. Pensei que estava no paraíso”, diz ele.

“Eu nem acreditei (risos). Eu achava que eu ia fazer as coisas a pé ou de bicicleta, mas me deram um Fusca. Pensei que estava no paraíso”

“Que legal lembrar disso”

Ouvindo histórias de crescimento, como a de Rafa, é comum a gente pensar que a pessoa nasceu destinada para isso e sempre foi ambiciosa. Que seria apenas uma questão de tempo para ela chegar no lugar que lhe pertencia.

Mas nem sempre ele pensou em ocupar cargos de liderança. Pelo contrário. Em meio às suas várias páginas de histórias, ele conta que, se não tivesse entrado na Fazenda Contabilidade, talvez nunca tivesse começado a se dedicar à área administrativa e fiscal que gerencia hoje. “Trabalhando em Curitiba não sobrava tempo para estudar. Provavelmente, eu iria entrar na linha de produção de alguma empresa grande, ou algo assim”, afirma.

Quando foi que as coisas mudaram, então? “Lembro como se fosse hoje”, diz ele. Ele estava voltando de mais um dia de trabalho externo, em Curitiba, e foi chamado para conversar pelo diretor do BioGrupo, Eduardo Córdova. Rafa pensou o que eu e a maioria das pessoas pensaríamos nessa situação: “A primeira coisa que vem a mente é: o que será que eu fiz. Deve ser algo grave para conversar em separado”, diz ele. Mas não, era um papo sobre o crescimento dele na empresa. Ele completa a história com bom humor: “Que legal lembrar disso!”.

“Agora sim eu sou alguém importante”

 

Depois dessa primeira conversa, Eduardo se torna um personagem mais importante na história de Rafa, como seu mentor. “Acredite se quiser (risos), mas a primeira coisa que eu fiz foi procurar o Eduardo. Fui ao posto conversar com ele, a noite, pois eu sabia que ele poderia me ajudar. Mas foi tão rápido que eu não pude absorver quase nada”, conta ele.

Com o tempo, ele começou a fazer cursos, procurando se qualificar para as novas responsabilidades que ganhava a cada dia. A lista é grande: comportamento em equipe, oratória — “Esse foi muito legal!”, destaca ele —, administração de conflitos, chefia e liderança, entre muitos outros. Mas, segundo ele, seu maior professor foi mesmo Eduardo. Nas palavras de Rafa: “Nenhum desses cursos tinha o efeito das conversas que tínhamos com o Eduardo semanalmente”.

Durante alguns anos, Rafa ficou como financeiro da empresa e foi promovido a gerente. Ele conta que ter a confiança de seu Onildo, o dono do escritório, fez com que o ele se sentisse importante: “Agora o chefe confiava tanto em mim que me autorizou a assinar os cheques da empresa. Pensei: agora sim eu sou alguém importante e faço diferença em algum lugar. Como que pode uma coisa tão boba significar tanto para alguém?”.

“Cara, ele tá louco!”

 

Como dissemos, Eduardo desempenhou um papel de mentor na história de Rafa. Segundo ele, as histórias de que ele mais se lembra nesses quinze anos de Fazenda Contabilidade aconteceram quando o mesmo veio trabalhar na empresa.

Eduardo chegou na empresa propondo uma série de mudanças que deixaram todos de cabelo em pé. “Ele pregava tudo ao contrário do que eu aprendi durante muito tempo. Falo, sem exagero, que ele mudou a cultura da empresa”. Rafa conta que, por um lado, pensava que o diretor estava louco e a empresa não teria como realizar suas ideias. Por outro, cada reunião com ele “era uma aula” e ele saía empolgado para aplicar o que foi ensinado.

Ver as mudanças dando certo fez com que certas coisas também mudassem na forma como Rafa via a Fazenda Contabilidade. Ele afirma: “Conforme as coisas que ele dizia iam se concretizando, eu comecei a pensar que ele podia ter razão. Com o tempo, comecei a confiar. Depois não imaginava mais a empresa sem as loucuras e mudanças dele”.

Em uma ponta da mesa, Rafael (à direita), ajuda o fundador da empresa, seu Onildo, a conduzir uma reunião na Fazenda Contabilidade. Com tantos anos de trabalho, Rafael se tornou uma das pessoas mais próximas da diretoria.

“Ganhar mais não é o mais importante”

 

Depois de alguns anos como gerente financeiro, Rafa sentia-se um pouco estagnado. Seu trabalho, antes tão empolgante, havia caído na rotina. Mas reclamar da rotina é desafiar o universo a chacoalhar as coisas. “O Dr. Onildo começou a falar em aposentadoria. Eu via que isso ia ser terrível para a Fazenda, pois a empresa toda era dependente dele”, conta Rafa.

Então, surgiu a proposta para se tornar gerente do setor administrativo e fiscal, comandando toda a equipe. “Um desafio e tanto!”, diz ele. Aceitou, mesmo sem saber o que precisava fazer para ser um líder de equipe.

Agora, Rafa se sente realizado profissionalmente — ele afirma isso algumas vezes ao longo de suas anotações — e diz que não tem muitas outras ambições de crescimento. Ele até pondera se esse pensamento está correto, mas parece bastante certo de que fez as escolhas certas ao longo desses quinze anos. “Eu sempre me pegava pensando se eu não era acomodado. Mas, com o tempo, eu entendi que estava realizado. Tem gente que se realiza com um milhão e tem gente que se realiza fazendo o que gosta”.

No lugar de Rafa, tal preocupação nem passaria pela minha cabeça. Claro que sempre é possível crescer mais — e, conhecendo Rafa através das histórias que ele me contou, eu afirmo com certeza que ele é capaz de ir ainda mais longe —, mas sair de um emprego onde ele fazia serviços de banco a pé para tornar-se gerente financeiro de um grande escritório de contabilidade parece crescimento o bastante para mim.

Mesmo sendo jovem — pouco mais de 30 anos — ele afirma que já conseguiu conquistar seus principais objetivos: “Tanto os materiais, como casa e carro, quanto os pessoais, como evolução, amigos, confiança e credibilidade”. Eu, que tenho 25 e mal comecei minha trajetória, espero chegar assim na idade dele.

Se a minha intenção com esse texto era inspirar outras pessoas que estão começando, acho que a missão foi cumprida. A história de Rafa é tão interessante que eu mesmo estou me sentindo a inspirado a buscar novas oportunidades de crescimento. E você?

Rafael, seu escritório na Fazenda Contabilidade | Foto de 2016

Rafael, em seu escritório na Fazenda Contabilidade | Foto de 2016