Como a sustentabilidade está transformando o mercado da moda
Ana Paula sempre gostou de desenhar. Quando era pequena, precisou fazer uma cirurgia e ficou vários dias de repouso dentro de casa. Poderia ter sido muito penoso manter uma criança sossegada no quarto por tanto tempo, mas não foi. Ana ganhou de presente da mãe um bloquinho de papel, destes simples de fazer anotações, e imediatamente o repouso se transformou em um intenso retiro criativo. Preencheu as páginas em branco com desenhos elaborados de noivas; tema que era seu preferido na época. Chegou a usar quase todas as folhas. No prazo de alguns poucos dias, um pequeno e despretensioso portfólio artístico reluzia cheio de vida, pronto para amadurecer e se transformar em algo muito maior.
Hoje, Ana entende que o que gostava de desenhar naquele tempo eram os “croquis”, palavra de origem francesa para os esboços de moda que unem a modelo à representação da peça. Passou boa parte da infância dizendo que queria ser estilista. Embora esta não seja exatamente sua profissão nos dias atuais, nunca deixou que a moda virasse apenas um sonho de criança. Na faculdade, cursou Desenho Industrial com Habilitação em Moda, um curso alinhado aos seus objetivos e, ao mesmo tempo, abrangente o suficiente para não restringir suas opções.
“Quando entrei na faculdade, me deparei com um universo bem maior do que eu imaginava, e acabei me apaixonando pelo processo de desenvolvimento das roupas. Foi somente na etapa da conclusão do curso, entretanto, que eu realmente encontrei a área na qual gostaria de atuar, conhecida como Design de Superfície. É o ramo do desenvolvimento de estampas, para qualquer superfície que se permita ser estampada. Esse é meu mundo”, diz Ana, durante uma pausa rápida entre um desenho e outro.
O Design de Superfície ao qual Ana atualmente se dedica faz parte também da chamada Moda com Propósito. Ao lado da empresária Juliana Córdova, ela passa seus dias empenhada na criação de uma nova marca de roupas para bebês, a Biobaby, que pretende impactar o mercado, se posicionando como um projeto inovador de moda sustentável.
“Além de toda a conscientização por trás das estampas, buscamos utilizar a estamparia digital, que atualmente é a opção mais ecológica para esse processo – e ainda garante fidelidade nos desenhos manuais no tecido. Nossos tecidos se diferenciam dos demais: são compostos de algodão sustentável e possuem processos ecológicos de produção”, explica. Nos âmbitos social e econômico, a Biobaby reforça que trabalha apenas com empresas responsáveis, que possuam funcionários registrados e ofereçam boas condições de trabalho. Há ainda uma preocupação em buscar apenas fornecedores nacionais, valorizando a economia regional.
Ana Paula é a primeira funcionária a fazer parte do projeto, e sente orgulho da marca que está ajudando a construir. Muito além do desenho de estampas – tarefa que se tornou uma prazerosa rotina -, Ana acompanhou o nascimento da empresa, a definição do estilo e do conceito e todo o processo de criação da identidade visual a ser seguida nas peças. O slogan definido para a Biobaby simboliza bem os ideais de sustentabilidade: “O melhor bebê para o mundo”. Não o melhor bebê do mundo, repare bem. É com pequenos detalhes que a marca se distancia de um objetivo meramente comercial e incentiva a pauta da sustentabilidade.
“Nosso objetivo é levar consciência para as novas gerações, de forma lúdica e divertida. Por isso, por trás de toda estampa existe uma história real, desenhada à mão, o que eu considero algo muito inovador. São peças com modelagem versátil e confortável, que levam facilidade para os pais nos momentos da troca de fraldas, conforto para a mobilidade das crianças, além de um visual colorido e divertido”, comenta Ana.
Na sede da Biobaby, Ana faz um pouco de tudo. Desenvolve estampas, elabora artes para e-commerce e papelaria, acompanha processos de modelagem, entra em contato com fornecedores, participa de cada uma das confecções. E o mais importante: continua rabiscando em bloquinhos de anotações, que reluzem cada vez mais cheios de vida.
