O ano era 1964, o lugar, Fazenda Rio Grande. Uma família de dez chegou meio que de repente, como chegam os imigrantes às cidades quando estão à procura de emprego. Vinham de Santa Catarina, e trilharam mais de trezentos quilômetros ao norte para se estabelecerem como os mais novos moradores da Fazenda Rio Grande. Não era emprego, contudo, que eles buscavam, e sim uma estranha terra prometida para os amantes de corridas de cavalo.

Era um interesse familiar em comum, a tal da corrida de cavalo. O pai tinha feito daquilo profissão: cuidava dos animais que iriam competir, e se dedicava com paixão ao ofício. Os oito filhos cresceram tão habituados ao negócio que quiseram também seguir carreiras similares: se tornaram jóqueis, treinadores, veterinários; todos eles. Quase todos, na verdade: Onildo, que chegou à Fazenda Rio Grande com doze anos de idade, era uma criança um pouco acima do peso; longe do tipo físico exigido para um jóquei. “Esse vai ter que estudar”, disse o pai, na época. E Onildo levou a sério.

A falta de destreza com os cavalos era compensada por uma habilidade mais acadêmica: os números. Onildo era o primeiro da classe em matemática, tão bom que fazia as provas e colocava os nomes dos amigos para ajudá-los. Começou a trabalhar cedo, em um escritório, depois mudou para uma olaria, onde foi gerente, e aos dezessete se tornou caixa de um posto de gasolina. Crescia rápido em seus empregos. Quando estava trabalhando no posto, percebeu que a empresa precisava desesperadamente de um bom contador, ou iria à falência. Não havia um único escritório de contabilidade em toda Fazenda Rio Grande e Onildo era muito bom com números. Ele pensou: por que não?

Não havia um único escritório de contabilidade em toda Fazenda Rio Grande e Onildo era muito bom com números. Ele pensou: por que não?

“Cheguei naquele momento aos 20 e poucos anos em que eu queria decidir sobre a minha vida, sobre meu futuro”, conta Onildo, hoje um senhor na casa dos sessenta anos. Conversamos em uma sala de reuniões, na companhia de dois de seus filhos. “Eu pensei: ‘Poxa, não tem nenhum contador aqui. Eu poderia começar um escritório’”. Passou os quatro anos seguintes cursando ensino técnico em contabilidade, em São José dos Pinhais. Depois ainda se formou em direito. Na metade do terceiro ano, a Fazenda Contabilidade já era o primeiro escritório da região.

Sem computadores na época, o jeito era fazer todos os registros à mão. O primeiro cliente de Onildo foi a olaria onde havia trabalhado, depois uma metalúrgica, uma oficina mecânica, e finalmente o posto onde havia sido caixa por dois anos. Este último, manteve como cliente fiél até o ano passado, completando impressionantes quatro décadas de parceria.

O escritório se modernizou quando as novas tecnologias começaram a surgir, e não houve nenhuma resistência na hora de aderi-las. Elas estavam ali para ajudar e Onildo nunca sentiu falta de ter que preencher páginas e páginas com tinta de caneta. “Um computador naquela época era mais ou menos como uma Ferrari. Quando o preço caiu um pouco, nós compramos. Sempre tivemos uma visão de que o escritório de contabilidade tem que estar atualizado, investindo. A tecnologia é impressionante, e quem não investe em materiais de ponta fica para trás”, conta.

O espírito empreendedor de Onildo levou-o em direção a diferentes caminhos durantes os anos de juventude. Ele chega a se perder quando tenta enumerar todos os negócios que já abriu em paralelo ao escritório: loja de eletrodomésticos, borracharia, gráfica, supermercado, madeireira, transportadora. Chegou a ser vereador, lembra um dos filhos. E também leiloou cavalos de corrida por um tempo, só pra não dizer que nunca fez parte dos negócios do pai. No fim, o que vingou mesmo foi a contabilidade.

A credibilidade da empresa foi crescendo por meio daquela divulgação boca-a-boca que só as cidades pequenas são capazes de aplicar com tanta eficiência. Onildo se tornou referência no mercado e passou a ser querido pelos clientes. “Tem gente que nem é mais cliente e continua ligando pra pedir conselhos”, conta a filha, Mariana. O diferencial, além da assombrosa habilidade com os números, sempre foi a proximidade e a confiança que Onildo transmite. Até em briga de casal ele era conselheiro, conta, dando risada.

“Eu me considero um patrão exemplar. Há 30 anos dou participação de lucros para meus funcionários. Hoje em dia oferecemos plano de saúde, auxílio academia, auxílio creche, auxílio curso, 50% no valor da faculdade… Estes benefícios são um grande orgulho que temos”, diz ele. Os filhos também ajudam a tocar as empresas agora, e Onildo confirma que seu legado está em boas mãos. Já sofreu muito com stress e sobrecarga, mas hoje em dia adota uma política de liberdade: “Faço o que quero, o que gosto, sou livre. Se alguém me convida para ir a algum lugar e eu não estou afim, não vou. E estou orgulhoso, meus filhos estão comigo”.

Um grande empreendedor como seu Onildo tem olho ágil para detectar seus similares. Quando um funcionário decide abrir um negócio próprio, é o primeiro a incentivar, e se enche de alegria ao falar sobre ex colaboradores que seguiram novos caminhos e encontraram sucesso. Ele conta que a política da Fazenda Contabilidade é fazer com que todos os funcionários caminhem juntos e prosperem ao máximo. Tem dado certo: a Fazenda ganhou o selo “melhores empresas para trabalhar” no ano de 2018, conferido por uma consultoria especializada, e segue prosperando com espírito colaborativo.

“O sol nasceu para todos nós”, diz seu Onildo. Os filhos confirmam.