Ser empreendedor virou moda. Para entender mais sobre o assunto, conversamos com Eduardo Córdova, diretor do BioGrupo, que traz o empreendedorismo de berço.

Todas as famílias têm suas tradições. Conversando com Eduardo Córdova, diretor do BioGrupo, podemos dizer que empreendedorismo é a tradição de sua família. O grupo hoje é formado por 15 empresas em 10 segmentos.

A certeza de que o empreendedorismo está nos sangue dos Córdova vem quando lembramos do patriarca, seu Onildo. Ainda jovem, há mais de 40 anos, ele fundou a Fazenda Contabilidade — primeira empresa da área em sua cidade — e teve dezenas de outros empreendimentos, ao longo da vida. Eu não ficaria surpreso se alguém me contasse que a filhinha de dois anos de Eduardo e Juliana, a adorável Alice, já está usando o dinheiro do lanche da escolinha para investir.

O empreendedorismo está em destaque nos últimos anos. A cada dia, vemos mais pessoas abrindo as próprias empresas ou trabalhando de forma autônoma. Cada vez mais cursos, coaches, livros e páginas no Facebook falam sobre o assunto. Eu sou capaz de apostar com vocês que, se a gente jogar uma pedra em um grupinho de jovens em um desses bares descolados do centro de Curitiba, a gente acerta uns cinco donos de startup.

Eu, que não tenho espírito empreendedor nem para vender Avon, fico muito curioso com tudo isso. Daí veio a vontade de conversar com Eduardo e entender um pouco mais a sua forma de pensar. Se há alguém que vive e respira empreendedorismo 24 horas por dia, esse alguém é Eduardo. Quem trabalha com ele sabe que falar 24 horas não é exagero: vide os e-mails de trabalho respondido de madrugada.

Na entrevista, ele contou sua história como empresário e explicou que estimula esse espírito empreendedor em todos os colaboradores de suas empresas. Assim como a maioria das conversas que tive com ele, trabalhando no BioGrupo, eu precisei fazer poucas perguntas e ele falou a maior parte do tempo. Da mesma maneira, o papo foi muito interessante e produtivo, como sempre. Confira, a seguir.

BioGrupo: De onde surgiu sua vontade de empreender?

Eduardo Córdova: Surgiu da vontade de transformar os lugares onde eu estou. Empreender foi a maneira que eu encontrei de contribuir para a sociedade. Na minha visão, todo mundo deve ser um pouco empreendedor. Eu acredito que você tem que trabalhar para você mesmo, para o seu desenvolvimento, não para uma empresa, ela é que deve trabalhar para você. É com esse propósito que eu trabalho, construindo empresas que desenvolvam pessoas. Eu poderia trabalhar para outra empresa, desde que ela tivesse esse propósito. Mas em vez de procurar uma, eu resolvi abrir a minha.

BG: O que é ser empreendedor, para você?

EC: Tem a ver com você assumir responsabilidades e fazer aquilo que você acredita. Não o que os outros querem que você faça ou da forma que eles esperam que você faça, mas da maneira que você acredita. Você pode ser empreendedor, mesmo sem ter uma empresa. Empreender é assumir a frente, liderar. Empreender é executar. Seja em uma equipe, um projeto, na sua família, igreja…

BG: Então você incentiva esse pensamento nos seus colaboradores?

EC: Hoje, eu venho tentando transmitir esse pensamento pra todo meu time e construir equipes empreendedoras. Fazer com que as pessoas empreendam dentro da empresa.  Porque daí não sou mais eu, os negócios ficam mais independentes e sustentáveis.

BG: Mas nem todas as empresas dão essa abertura. É possível empreender em um lugar que não dá essa oportunidade?

EC: Você pode ter um emprego, mas pode desenvolver projetos paralelos fora do seu horário de trabalho. Grandes empresas que eu conheci começaram como projetos secundários de gente que trabalhava em outros empregos e faziam isso nas horas vagas. Quando o projeto começou a se sustentar, eles saíram. Se a empresa não dá abertura e você precisa do emprego para trabalhar, é claro que você precisa continuar. Mas busque outras maneiras. A economia de compartilhamento dá oportunidade para você empreender só com a Internet.

Eduardo com seus colegas da BykeStation, um de seus mais recentes empreendimentos. A Byke é uma startup que comercializa produtos para ciclistas através de vending machines. 

BG: E você, como começou?

EC: Eu trabalho desde os meus 12 anos, nas empresas da minha família, mas comecei como office-boy. Também trabalhei em uma madeireira que eles tinham, como peão. Trabalhei no RH e no Fiscal da Contabilidade, depois fui para o financeiro.

BG: E qual foi seu primeiro empreendimento?

EC: Eu comecei com 17 anos, com um posto de gasolina que a família comprou de um amigo, mas eu já era sócio. Eu não tinha dinheiro, mas eu tinha a confiança do meu pai. Então, eu fui pagando o posto com o resultado que ele mesmo gerava. Na verdade, eu ainda estou pagando… Porque eu fui comprando novos postos, crescendo, sempre utilizando a credibilidade que eu e minhas empresas tem no mercado. Cheguei a ter 10 milhões de crédito em bancos. Eu sempre fui tendo crédito e utilizando isso para fazer minhas empresas crescerem.

BG: Quais habilidades você julga necessário para ser um empreendedor?

EC: Essa habilidade de você ser resiliente, de empreender em condições diferentes da sua zona de conforto. Além disso, relacionamento é muito importante: lidar com cliente, colaborador, fornecedor… E também a busca por conhecimento. Ser sempre um aprendiz e nunca achar que você sabe tudo. Qualquer empresa que para de inovar  morre. A mesma estrada que te leva a crescer, não é a que te leva pro futuro. Você tem que procurar novas estradas, porque se você continuar na mesma estrada, ela te leva à falência.

BG: Quando você começou, você já tinha essas habilidades?

EC: Eu sempre tive a habilidade de empatia, de me colocar no lugar das pessoas. Eu sempre me coloquei no lugar dos meus colaboradores. Até porque eu comecei como peão, né… Outra habilidade é a de sonhar, de querer fazer a diferença. Além disso, eu sempre fui muito disciplinado. O resto eu fui aprendendo.

BG: Como é o seu dia a dia como empreendedor? Em que ele se diferencia do dia a dia de um empregado?

No mínimo 50% do meu dia eu estou conversando com as pessoas, com minhas equipes. Se eu quero desenvolver as pessoas, eu tenho que estar junto com elas. Outros 25% do tempo eu dedico a fazer curso e aprender coisas novas. O resto, eu tenho minhas responsabilidades operacionais de gestor.

BG: E que responsabilidades são essas? Em que elas se diferenciam das de um colaborador?

EC: Eu acho que eu tenho que pensar mais no longo prazo. Empregado talvez pense mais nas tarefas que têm no dia-a-dia e eu tento pensar no futuro.

BG: Você acredita que os seus colaboradores deveriam pensar dessa forma?

EC: Não necessariamente. Acredito que eu preciso ajudar eles a pensar como empreendedores. A responsabilidade é minha.

Eduardo com Fernando Castellon, seu sócio na Motion Publicidade. A parceria na área é recente — começou no fim de 2017 —, mas já é muito bem sucedida. 

BG: Para terminar, então: qual é o caminho para quem quer começar como empreendedor? Um empregado assalariado, como eu e quem está lendo, consegue?

Você tem que criar planos, metas. Onde eu quero estar daqui a um ano, dois anos, cinco anos? Se pergunte isso. E pense, também, que não é uma mudança radical. É uma mudança gradativa: você começa com um pequeno projeto, depois vai aumentando. Além disso, Aristóteles tem uma frase que diz: “Quando você encontra suas habilidades autênticas e elas se cruzam com necessidades do mundo, nasce seu propósito”. Então, pense no que você gosta de fazer e é bom fazendo. Quando você encontra isso, temos um pequeno esforço, com um grande resultado. Você, por exemplo, que é bom escrevendo, você tem que investir nisso. Mesmo que não dê tão certo, você ganhou alguma coisa e se desenvolveu. É o caminho para dar um bom resultado. Eu fiz o que me faz feliz e o que me faz feliz é o que sempre vai me dar o maior resultado.